O ministro da Economia de Portugal, António Pires de Lima, admitiu hoje estar “bastante” preocupado com as restrições às importações por Angola, garantindo que o Governo está a trabalhar na frente diplomática e política para limitar o impacto na balança comercial portuguesa.
“É um tema que nos preocupa bastante. Os produtos mais sensíveis a este tema das exportações são aqueles sobre os quais o Governo angolano define quotas, que em alguns casos significam uma redução de 70%”, afirmou Pires de Lima.
Questionado sobre os impactos da descida do preço do petróleo, o governante garantiu que está a ser feito um trabalho, na vertente diplomática e política, para “limitar o impacto” que a queda das exportações pode vir a ter para a balança comercial portuguesa e para as empresas exportadoras, nomeadamente no sector das bebidas.
O ministro da Economia lembrou que Angola pesa 6,6% na agenda exportadora portuguesa, sendo o quarto mercado em termos de exportação de bens e quinto na soma dos bens com serviços.
Por outro lado, a descida dos preços do petróleo – em cerca de 58% desde Junho – pode ter “um impacto positivo na economia portuguesa”, sublinhou, explicando que “por cada dez dólares que baixa o impacto no PIB é de 0,16%”, o que permite antecipar um benefício de 3.000 milhões em 2015.
“Esta descida tem que se repercutir nos custos do combustível aos consumidores e nos custos energéticos das nossas empresas”, realçou.
Portugal está preocupado. Tem razões para isso. Curiosamente nunca se ouviu o primeiro-ministro, Passos Coelho, dizer alguma coisa sobre o facto de 68% da população angolana ser afectada pela pobreza, ou de a taxa de mortalidade infantil ser a terceira mais alta do mundo, com 250 mortes por cada 1.000 crianças.
Também nunca se ouviu António Costa, líder do PS, dizer alguma coisa sobre o facto de apenas um quarto da população angolana ter acesso a serviços de saúde, que, na maior parte dos casos, são de fraca qualidade.
Por outro lado, ainda estamos à espera de ouvir Cavaco Silva recordar que em Angola 12% dos hospitais, 11% dos centros de saúde e 85% dos postos de saúde existentes no país apresentam problemas ao nível das instalações, da falta de pessoal e de carência de medicamentos.
Ou de Paulo Azevedo, da Sonae, recordar que a taxa de analfabetos é bastante elevada, especialmente entre as mulheres, uma situação é agravada pelo grande número de crianças e jovens que todos os anos ficam fora do sistema de ensino.
Ou de Paulo Portas dizer que 45% das crianças angolanas sofrerem de má nutrição crónica, sendo que uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos.
Ou de Jerónimo de Sousa dizer que, em Angola, a dependência sócio-económica a favores, privilégios e bens é o método utilizado pelo MPLA para amordaçar os angolanos.
Vamos esperar para ver se alguém se preocupa em explicar aos jovens portugueses o que é a real Lusofonia. Hoje, para eles, é mais importante o que se passa em Kiev do que o que se passa em Luanda, é mais importante o que se passa em Bruxelas do que o que se passa na Cidade da Praia, é mais importante o que se passa na Síria do que o que se passa em Díli.
E se calhar até têm razão. Portugal adoptou oficialmente a tese de que a Europa é que tem futuro (e, de facto, os credores é que mandam). E quem somos nós para justificar que o presente pode ser a Europa, mas que o futuro, esse passa pela África lusófona?
Se, de facto, a dita CPLP é uma treta, e a Lusofonia é uma miragem de meias dúzia de sonhadores, o melhor é mesmo encerrar para sempre a ideia de que a língua (entre outras coisas) nos pode ajudar a ter uma pátria comum espalhada pelos cantos do mundo.
E quando se tiver coragem para oficializar o fim do que se pensou poder ser uma comunidade lusófona, então já não custará tanto ajudar os filhos do vizinho com aquilo que deveríamos dar aos nossos próprios filhos.
É claro que na lusofonia existem muitos seres humanos que continuam a ser gerados com fome, nascem com fome e morrem, pouco depois, com fome. Mas, é claro, morrem em… português… o que significa um êxito para a língua.